De Devedor a Banqueiro: Como Sair da "Classe Média Amadora" e Por o Banco a Trabalhar para Ti
Já paraste para pensar em como funciona a dinâmica do dinheiro num banco?
A maioria das pessoas passa a vida do lado errado do balcão. Pedem empréstimos para a casa, para o carro, ou usam o cartão de crédito, pagando taxas de juro exorbitantes à instituição.
Mas existe um segredo que distingue o investidor amador do investidor inteligente: a capacidade de trocar de cadeira. Em vez de seres tu a pagar juros ao banco, é o banco que te paga juros a ti. E não, não precisas de ser milionário para isso; precisas apenas de compreender um instrumento chamado CDB (Certificado de Depósito Bancário).
Para ilustrar como isto funciona e evitar as armadilhas comuns, vamos recorrer a algumas histórias que talvez reconheças.
A Ilusão da Dona Maria e o Preço do Pão
Imagina a Dona Maria. Ela é conservadora com o seu dinheiro e guarda tudo na conta poupança há 10 anos. Ela sente-se segura porque o número na conta está lá, intacto e a crescer uns cêntimos.
O problema é que a Dona Maria esqueceu-se de um vilão silencioso: a inflação. Há 20 anos, com 10 euros (ou reais, dependendo da geografia do teu investimento), a Dona Maria comprava o pequeno-almoço para a família toda na padaria. Hoje, com a mesma nota, mal consegue comprar um café e um pão.
É aqui que entra a importância de entender os tipos de rentabilidade.
O CDB indexado à inflação (IPCA+): É como se fizesses um acordo com o banco para garantir que o teu dinheiro nunca perde o poder de compra. O banco diz: "Eu pago-te a inflação do período mais uma taxa fixa". Assim, se o pão aumentar de preço, o teu dinheiro aumenta na mesma proporção, e tu ainda ganhas um extra real por cima. A Dona Maria, na poupança, está a perder dinheiro todos os dias sem perceber, porque o rendimento dela não acompanha o custo de vida na padaria.
O Primo Zé e a Armadilha dos "200% de Lucro"
Todos nós temos aquele primo, o Zé, que adora uma "oportunidade imperdível". O Zé viu uma publicidade de um banco digital a oferecer um CDB que rendia 200% do CDI (uma taxa de referência interbancária). Os olhos dele brilharam.
"Vou ficar rico!", pensou ele. O que o Zé não fez foi ler as letras pequeninas. Muitas vezes, estas promoções são apenas engodos de marketing para atrair novos clientes.
O Prazo: O dinheiro só rendia aquilo por um mês ou dois.
O Limite: Só podia investir até um valor baixo (ex: 5.000).
Os Impostos: Ao retirar o dinheiro num prazo tão curto, a carga fiscal sobre o lucro (o IOF nos primeiros dias e o Imposto sobre o Rendimento) "comeu" quase todo o ganho extraordinário.
O Zé acabou por ganhar uns trocos e teve o trabalho de abrir conta e movimentar fundos. O investidor inteligente prefere a consistência de longo prazo a fogos de artifício de curto prazo que, no final, não aquecem nem arrefecem a carteira.
O Medo do "Banco Desconhecido" e a Regra do Primo Rico
Agora, falemos de risco. Muitos investidores têm medo de emprestar dinheiro a bancos menores (que geralmente pagam taxas muito melhores que os grandes bancos comerciais) porque receiam que o banco vá à falência.
Aqui entra a rede de segurança chamada FGC (Fundo Garantidor de Créditos). Funciona assim: se emprestares dinheiro a um banco e este falir, este fundo devolve-te o dinheiro, até um limite de 250 mil por instituição.
Pensa nisto como emprestar dinheiro a um primo. Emprestarias 250 mil ao teu primo? Provavelmente não, a menos que tivesses um seguro absoluto que te garantisse que, se o primo fugisse para as Caraíbas, a seguradora te pagava tudo. O FGC é esse seguro. Por isso, o investidor inteligente não tem medo de bancos menores ("bancos merda", como diriam os mais vernáculos), desde que:
Não ultrapasse o limite de garantia (250 mil).
Diversifique entre várias instituições.
Conclusão: Sê o Banqueiro da Tua Própria Vida!
Viver de renda passiva não é magia, é matemática e paciência.
Se queres segurança absoluta para o dinheiro de emergência, talvez o Tesouro (dívida pública) seja o ideal.
Se queres ganhar da inflação a longo prazo, procura títulos indexados ao IPCA.
Se acreditas que os juros vão cair, um título pré-fixado (onde a taxa é acordada à partida, ex: 12% ao ano) pode ser uma jogada de mestre.
O importante é deixares de ser a pessoa que paga juros para comprar coisas que perdem valor, e passares a ser a pessoa que recebe juros para construir a tua liberdade. Não sejas a "classe média" que sustenta o lucro dos bancos; sê o parceiro deles.

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